Espaços urbanos sustentáveis

Um caminho possível para a reconquista da qualidade de vida nas cidades.

06/04/2016

O conceito de Sustentabilidade pelo mundo ganha formatos cada vez mais presentes em nosso cotidiano. Projetos urbanos diferenciados vão se multiplicando e transformando positivamente as paisagens dos grandes centros. E o melhor é que nem sempre estas iniciativas começam do zero, mas reaproveitam espaços, muitas vezes obsoletos dentro das áreas urbanas.  
Nova Iorque, por exemplo, teve o mérito de repaginar por completo uma pista elevada, abandonada por décadas, transformando o local em um belíssimo espaço público de lazer. Hoje, o High Line é referência no mundo quando o assunto é planejamento urbano e sustentabilidade.

High Line em Nova York

Na Europa, todos os anos uma cidade é eleita Capital Verde numa acirrada disputa envolvendo poder público e comunidades em valorizar iniciativas em prol da sustentabilidade no ambiente urbano. Para se ter uma ideia, a cidade espanhola de Victoria-Gasteiz, eleita a Capital Verde Europeia em 2012, possuía um projeto de desenvolvimento urbano sustentável desde 1995. Boa parte dos investimentos na cidade espanhola foi direcionada para criar um sistema de transporte público mais eficiente, com corredores de ônibus, ciclovias e utilização de energia limpa. Hoje, as áreas verdes funcionam, também, como escolas vivas para produção e estudo de hortas comunitárias, jardinagem, produção orgânica, entre outros. Em Victoria-Gasteiz, todas as pessoas têm acesso a áreas verdes em um raio de 300 metros em relação às suas casas. São 95 quilômetros de ciclovias e 598 estacionamentos para bicicletas. O consumo de água por pessoa está abaixo dos 100 litros diários.

Até o momento, a cidade sueca de Estocolmo (2010), a alemã Hamburgo (2011), a espanhola Vitoria-Gasteiz (2012), a francesa Nantes (2013), a dinamarquesa Copenhague (2014) e a inglesa Bristol (2015) foram as Capitais Verdes Europeias eleitas. Em 2016 foi a vez da cidade eslovena Ljubljana.
O processo de escolha da Capital Verde exige o cumprimento de doze indicadores de sustentabilidade: Alterações climáticas: mitigação e adaptação; Transporte local; Áreas urbanas verdes incorporando uso sustentável do solo; Natureza e biodiversidade; Qualidade do ar ambiente; Qualidade do ambiente acústico; Produção e gestão de resíduos sólidos; Gestão da água; Tratamento de águas residuais; Eco-inovação e emprego sustentável; Desempenho energético; e Gestão ambiental integrada.



No Brasil
Em nosso país, programas desenvolvidos por organizações da sociedade civil, como o Programa Cidades Sustentáveis, buscam sensibilizar, mobilizar e oferecer ferramentas para que as cidades se desenvolvam de forma econômica, social e ambientalmente sustentável. No Cidades Sustentáveis "o foco do programa é destacar a importância do planejamento e da gestão das políticas, mostrando que não há contradição entre desenvolvimento social e econômico e sustentabilidade", explica o coordenador do programa Maurício Broinizi. Segundo ele, um dos grandes entraves para o desenvolvimento sustentável no Brasil é a falta de uma cultura política de longo prazo. Inspirado em um modelo europeu, o Cidades Sustentáveis foi adaptado para o Brasil, com dois eixos de ação: Educação para a sustentabilidade e Qualidade de vida e cultura para a Sustentabilidade.
Em Curitiba, são 36 espaços urbanos de preservação, entre parques e bosques, justificando a cidade como segundo lugar do ranking mundial de equilíbrio ambiental.
João Pessoa, destaque nacional na proteção de áreas ambientais, passou a utilizar ecoblocos nos pisos de suas praças (peças feitas com vidros de garrafas), além de decorar as paredes destes espaços públicos com mosaicos feitos com CDs, tampas de garrafas e até placas de computador, entre outros materiais.     
Outras cidades, como Santana do Parnaíba, Londrina e Paragominas estão se destacando em iniciativas sustentáveis por meio de ações, como cooperativa de catadores, programa de coleta seletiva do lixo e combate ao desmatamento, respectivamente.

Em Belém
Na capital paraense, projetos sustentáveis vão surgindo de forma mais pulverizada pela iniciativa privada. No entanto, um caso mais recente e provável divisor de águas é o condomínio Cidade Cristal, um bairro planejado para ser referência para a elevação da qualidade de vida e sustentabilidade, em Belém. Projeto da Sintese Engenharia, Freire Mello e Marko Engenharia, o Cidade Cristal conta com 300 mil metros quadrados de residências, centros comerciais, escola, parques e o maior shopping center do Pará. A ideia é que seus moradores não precisem se deslocar a outros bairros para ir ao trabalho, estudar, ir à academia, fazer compras e até participar de grandes eventos. Essa logística evita o trânsito e contribui para menos emissões de gases poluentes, reduzindo o acúmulo do estresse e permitindo mais tempo para as atividades diárias. No Cidade Cristal, todo o cabeamento é subterrâneo, a arborização e o projeto paisagístico privilegiam as áreas verdes, numa relação morador/m², como em nenhum outro lugar de Belém, além de calçadas-parques de até 8 metros de largura. Para interligar os condomínios residenciais e os comerciais foram criados lindos jardins. Todas as áreas verdes do bairro serão monitoradas quanto ao uso da água. As áreas comuns foram projetadas para utilização de energia natural a maior parte do dia. Atitudes sustentáveis serão estimuladas para a preservação, reciclagem e compostagem do lixo. Cada detalhe voltado para o aumento da qualidade de vida e estímulos a ações sustentáveis.

Condomínio Cidade Cristal

Atitudes sustentáveis
A cada dia surgem novos espaços sustentáveis mundo afora, orientados a preservação dos recursos naturais, à mitigação dos impactos negativos das grandes cidades sobre o clima do planeta e, dessa forma, a produção de mais qualidade de vida para as pessoas. Porém, enquanto espaços estáticos, eles dependem de nós, da forma como vivemos em nossas casas, como consumimos, como produzimos nosso lixo. Nossa forma de viver e consumir exercem grande influência sobre o cenário a nossa volta e sobre a tão sonhada qualidade de vida no meio urbano.
Os novos espaços urbanos sustentáveis estão aí, nos convidando a participar da construção de um futuro possível para o planeta, nos propondo pequenos e revolucionários gestos para as próximas gerações.